segunda-feira, 28 de junho de 2010

O LIMITE?

12102000

o limite de mim mesmo
está aquém dos muros azuis
erguidos em menção honrosa
à limitação
e eu não quero partido
quero inteiro
diria blackout

para que limites além dos muros?
eles chegam e partem
porque não é pra limitar
limite é este ponto em que
me encontro
o início e o fim
a partida e a chegada
tudo é uno

veja os mares
são um


e as lamúrias são mímicas
limítrofes
do silêncio

e se espera aprender a não limitar

SÓ FALAR?

8102000

o que posso fazer
senão sentir e ver o tempo passar?
todos passam como o tempo
e é bom

há uns que permanecem sem estar
outros partem e sequer são lembrados
e eu esfacelado caminho
à beira mar

imagino no que há detrás da serra de patu
no fundo do mar
e tudo se torna virtual
o rapaz que busca o
sabiá que foge dos pomares
por causa dos agrotóxicos
que matam homens
desalojam as samambaias
dilacera a vida
o homem-ganância
clica e árvores viram ação
papel de bolsas sem-valores
de homens-de-capital
capital duvidoso

e o tempo
comporta a esperança de que isto vai
um dia
mudar

o que se pode fazer?
falar falar falar

CAIS

2e392000

mas eu tinha que
me derramar no papel
você
me fez fluir
e me fez aflorar
todos os desejos todos os sonhos
calcificados ao longo
das eternidades
nesta jornada infinda
de pedra e éter
sertão ácido árido poeta
água e gás
neste porto de eterno
partir e ficar
nos encontramos
e rufaram sentimentos
dantes indiferentes

BUSCA-MI(L)

292000

no alvoroço ensurdecedor dos metais
uma silenciosa e plácida cumplicidade
enlaçam  aqueles olhares que
caminham por entre a multidão
e se entrelaçam
dançam
e esvoaçam em espiral

já não são só dois homens
tornaram-se uno
na imensidão

e outros continuam a buscar
outros que buscam
e lançam contínuos e provocantes
jatos de espírito
querendo se confraternizar
e buscam os elos perdidos
na multidão

todos querendo ser um

NEOMÊNIA

292000

já ia sons e tons
e semitons
a tocarem qual
uma brisa de mar
silenciosa e lascerante
causando alvoroços e destroços
e em inusitado instante
me acalmou o espírito

sons e tons
agudos prazeres

já ia seis
de doze luas
de uma gestação
de espíritos ousados
de sonhos e sons e tons

já ia sons
e iam vontades e desejos sagazes
a tocar melodias
como de uma afinada harpa
harmônica e milenar de naverrantes
jovens e saudosos poetas
de patu e natal

descobriu-se o prazer

OBLÍQUO

2997

da janela do meu quarto
cintilam tuas pupilas
que me epiam passar em direção a marte

os martinianos expiam suas existências
coroadas de amores i-lícitos

duas pupilas me espiam
e têm íris cor de mel
exalam perfume de pedra ao sol no sertão

das urbs do meu planeta volta-se ao caos
e já é verão
o sol bate nos meus ombros
me refresca a alma
e me faz sonhar
na janela do meu quarto

sonho em ter-te
sendo nós em algum momento uno

OS DOIS AMANTES

11092

um quis o outro
o outro andarilho andara e andará
um esperou a volta
mas àquela noite
não amaram nada
porque já havia passado
o frêmito e o
mistério do querer

NEGATIVO

11122001

com o passar dos dias
meu coração ficou mais sereno
menos efêmero e fugaz

de docinhos de cacau
e leite
tirei feitos de amor
que nunca pensara

todos os meninos descem e sobem
a rua e não se cansam

eu era assim buscando o amor
e ele estava em mim
quando me apaixonei por você
e só hoje entendi isto

o verão faz mudar
e você mudou
e eu também

o carro da coleta
levou o lixo e
todos os poemas
em preto e branco se foram
ficaram os sonhos

MY DREAM MY LIFE

01072000

os homens todos amarão
os homens todos em busca da paz e
"será um lindo dia amanhã"

serão todos
fidus achates?

BURLA

25112000

os girassóis em sementes
que plantei
floraram orquídeas
quais vulvas férteis
à espera de sémen
para perpetuação das espécies

SONHOS

12102000

a dor de não ter-te
e imaginar distante mais do que estás
destroi-me e aflora
todas as frustrações enrustidas
há milênios pelos meus eus
florescem nos lajeiros do sertão
nos alpes
nas cordilheiras
e nas grutas mais remotas

a dor de ter-te
no meu colo acalantado
pelos sentimentos mais pueris
me faz viajar
em direção a netuno
à procura de tritão e nereida
para no oitavo dia
te ver dormir e sonhar
e soltar as fantasias quiméricas
de milênios amufambadas
por outros eus

o prazer de ter-te
é onírico
e eu galgo todos os cumes
em te ver passar

INFÂNCIA

2482001

mamãe costurava os costumes
da cidade
e eu lia o pequeno príncipe
que achava parecido
com todos os meninos da minha idade

papai andava a cavalo pro pé-da-serra
e eu queria furar um túnel
pra encurtar o percurso
mas eu ia na lua-da-sela
depois na garupa
e sonhava cavalgar
na rodagem pro patu-de-fora
mamãe fazia um rubacão
danado de bom
com toicin  feijão-de-corda linguiça
arroz-da-terra nata queijo-de-coalho
carne-de-sol e muito cuento

nada era melhor
só a malassada de vovó
no café forte da tarde

quando eu era menino era tão bom!!!

SONHO DE MENINO

692001

a pipa alçou vôo
o menino sorriu feliz
a rua tornou-se o deserto
(in)desejado
a roupa rasgada
o pé no chão
barriga vazia

eu quero ser médico
o menino chorou
a polícia bateu...ou matou

minha pipa é
meu sonho
é não violência
não fome nem dor

FIDUS ACHATES

30992

nunca te escreverei coisa alguma
porque nunca acharei nada
pra te dizer
nunca terei nada coisa
alguma coisa pra te dizer
terei nunca alguma coisa
que te diga
só sentirei como sinto
você do meu lado
e nos devoramos alguma coisa
e eu te sinto
e nunca te escrevei nada
um hai-kai porque sequer
te quero sentir e não pensar
coisa alguma

É ISTO

um lamento em uma nota só
um lamento e uma nota só
uma nota só e um lamento
uma nota e um só lamento
lamento de uma nota só

escrevi num papel
um lamento
e eu vi mamãe sentir a dor de ser mãe
e não ter o espaço que merece
vi o poder matar e ludibriar
para se manter matando
eu vi o iraque lutando
para se manter independente
das injenções ianques
eu vi nas ruas da minha cidade
as pessoas transeuntarem
e todos iguais
todos irmãos esfacelados
em busca de pão e água
e vi a pele dos gatos descerem
até o pó
e as crianças como os gatos e cachorros
gregos ou troianos já dizimados
em piedade e dó
transeuntam articulando o amanhã
e eu escrevi neste tempo a dor
de correr levando a vida imposta
e subornada pelo poder                                 E EU ESCREVI NO PAPEL
                                                                      MEU LAMENTO