segunda-feira, 6 de setembro de 2010

FESTA DE REIS

612001

reco-reco
berimbau
versos e violões
ruas morros
salões
rapaz velho
papai sempre falou
estudar para ser gente
pobre sem estudo num é ninguém

passam homens
passam cadáveres
cavalos
coragem e esperança
empunham castiçais
iluminam-se veredas
galgam alturas
desejos e sonhos
musicados em notas cabalísticas

AMOR E MITO

532002

meu mito
quanta areia movediça
miragens de oásis e tâmaras
dedos-de-ouro deliciosas
como os teus lábios
sempre verdes e carnudos
abertos como as portas dos tempos

eu minto
e os lajeiros da minha terra
têm muito xique-xique
frutos vermelhos carnudos
como os teus lábios
o xexéu vem comer
todas as sementes
e canta e encanta as belas tardes sertanejas
como os teus beijos

e eu como os frutos
espero seu vôo
me tocar
e levar minhas sementes
lançá-las em terra fértil
e ser meu adubo

espero proliferar-me
meu mito

CONDUÇÃO

292001

esvoaçam desejos
ultrapasso a mureta
e no ocaso
a silhueta do carcará
imponente se confunde
com o arrebol vespertino
do sertão serrano

espreito
a rua e nada há
estreita uma porta entreabre
e uma anciã conduz uma ânfora indígena
sem asas

os homens comungam
e expiam seus prazeres
para santo antônio são gonçalo
e esvoaçam deuses
os homens caminhavam

NONADA

652001

todas as ferramentas
estão afiadas
e eu manuseio
como se fossem
meus próprios dedos

a escultura enfim sorri feliz
por ter saído daquela pedra bruta
há milênios sedimentada
por um bruxo inábil e insensível

as palavras fluem como o rio
que corre
e escorre pensamentos
da terra que dormiam
de outras eras

tudo está posto e o homem
continua manipulando
as ferramentas como desde
a pré-história
o domínio se dá pelo ferro e lêiser
as idéias moldaram
a ganância de ter não satisfaz
quer mais e
o outro não tem nada nonada

METAPOEMA

15122000

queria fazer um poema
cheio de rimas fáceis
onde eu expressasse todos os meus desejos

queria fazer um poema
um haicai - pode ser!
que extirpasse todas as minhas ânsias
e eu ficasse zen
queria fazer um poema em prosa
onde eu me derramasse
e me esvaziasse
todos os pensamentos todas as idéias

queria fazer um poema
em cordel
que cantasse minha peleja
com a vida e o diabo
num repente de luta e de desafogo

eu quero fazer um poema
que eu diga
que minha paixão
é ridícula e pueril

GRITO

13122000

a minha alma grita
e vazio o ermo (me) espreita
como um espelho

ninguém diz nada ninguém sabe nada ninguém
me enoja tudo me enoja todos
a mim
o ermo o grito surdo sem eco
de uma alma em chamas
lascerada
por um tempo vil
de borrasca e tempestades

a minha alma clama
e um vazio espreita-me
como um esperto cão

e eu lascerado
espero o tempo sarar
minhas feridas
dos encontros com
os outros

a minha alma calma
espraia-se realizada

UNE HISTOIRE D'AMOUR

17112000

um grito de ciúme
na pista molhada
e todos vêem que se trata
de amor incontido
que chora imcompreensões

um beijo no asfalto
e escorre lágrimas
pela dor das flores
jogadas em pétalas
na sargeta

e todas as cores saíram
dos olhos daquele broto
possesso de prazeres e desejos
e as lágrimas firmaram-se arco-íris

dois pássaros esvoaçam
a rua plena
e em vôo plano
roubam auras
de homens-cor-de-cinza
e transmudam-se
em busca de realizações

RAPAZES PENSANTES E PULSANTES

4112000

como é agradável estar
em companhia dos rapazes bonitos
brônzeos e hercúleos
moldados nas dunas
descidas e subidas ladeiras
do sol mãe luíza  e mereto
como é bom tê-los
bem perto acariciando
e vê-los de hastes em riste
fazendo flores de homens viris
sonhando em galgar as ladeiras da vida
e todas as águas de março
se fazendo passado
e outros verão
virão pras águas outras de marços
outros se fazerem presentes
e outros rapazes florescentes
surgirem pra embelezarem
os jardins da vida

como é agradável a companhia de
rapazes pensantes e pulsantes

14 DE JULHO

24112001

o povo se rebelou e fez história
muitos oguns surgiram
nas multidões
e se lembravam todos
do rei de frança
e desejam
decepar todos os reis
do capital

o sol surgiu
e todas as árvores sorriam
com os cuidados de ossãe

nós teremos um 14 de julho

uma vontade forte e obstinada
vence tudo
a natureza os elementos os obstáculos

O OLHAR DA SUINDARA

351990

um lobo me doma
e eu o conduzo por entre cactos e juás
me tira do leito de cetim e flores
por não querer-me como sou
me levou para longe
para andar por onde eu nunca andara
e eu suindara andei
a tentar entender
os concretos que muitos construíram
e eu também


não sei porque não me devorastes
comendo o meu coração em pagamento
das dívidas da minha raça
que te deveu um beijo
que quis me darem

e eu fiquei ossãe
saí pra urb
que às vezes não me faz bem
mas me faz (quase) ver
a dor de negras
almas submetidas e subservientes
a ridículos homens que parasitas
nos roubam

SEM TÍTULO

2342002

a bigorna e o machado todos os sonhos
martelados e desferidos golpes
moldados
retirados pensamentos
como escamas sucessivas
filetadas insistentes
a vontade da felicidade
sobrepunha todas as resistências

para que escrever
se a água vem e varre a praia?

vago impulso
que me lava a alma
e os pensamentos

moldar o ouro
ferir o caule
é a gana do homem
néscio devaneante

talha e esculpe
desejos e taras

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

TEXTO DE AUTO-AJUDA?

2682010

uma saudação de bom dia
muitas vezes tem sido interpretada
como caretice
quando você transeunta pelas ruas de sua cidade

uma mensagem de desejo
de crescimento de felicidade de harmonia
tem sido vista como coisa pegajosa

um aperto de mão
um abraço
pode ser lido como inoportuno
ou invasivo

mas é tão bom quando
encontramos pessoas
com calor humano
que acredita no outro e quer
o seu crescimento

então peço
perdõe-me se sou repetitivo e
se mais de uma vez
desejo que vc esteja
em harmonia consigo mesmo
e com os seus conviventes
se muitas vezes estou desejando
que deus
a vida
lhe conceda sabedoria e equilíbrio
para ponderar e discernir
quando das suas decisões

acho que é coisa de educador
mas o povo também tem
um ditado maravilhoso
"água-mole-em-pedra-dura-tanto-bate-até-que-fura"
pode ser que
de muito todos nós desejarmos
só coisas boas para o próximo
possamos ser atingidos
por esta onda
né?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

REALIDADE

1392001

o mundo está a cada dia mais
desumano
bomba
fome
miséria
torpedo
doenças
ignorância
míssil
as superpopulações imposições
segregação
intolerância
massacre


luta e realizações
a vida não pára

ILUSÃO

1471998

amarga felicidade
de tê-lo tão longe sol
e tão perto teus raios
de sentir essa angústia
que lascera minhas células
e o meu poema

linda onda de mar que me acorda e me faz
voltar ao início de tudo
às minhas vontades e
à saudade

lindo mar de sonhos
e dos meus desejos
contidos escrachados tolhidos felizes
de eternidade

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A PALAVRA

2372010


chave de entrada e saída a palavra
transforma homens
em pássaros que olham da arábia saudita
suaviza tapas
e carícias são lidas

vamos viajar e sonhar
com dias amenos
quando todos celebram
a harmonia de ser o  que é

a diferença da cor da prata
da água que corre
e escorre rumo ao mar

da luta  da labuta
e do perfume que exala
dos corpos nus

cada dia é dia de renascer

quinta-feira, 22 de julho de 2010

AS DUAS MULETAS

2692003                                                                   a márlio forte, meu amigo


o nada se apoiava nele
e jogava-se no nada como apoio
e difundiam-se entre si
e alguns néscios que eram
erravam nos passos e trupicavam
esbarravam em nada
que tinham construído
nos dias passados
e o futuro lhes metia medo
por não saberem inovar
e nada faziam
pra não saírem das burocratas rotinas
a inércia
e apregoavam feitos
desfeitos por eles mesmos
quais penélopes
e tinham desesperança
e mentiam que esperavam

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O BOTÃO E O VÔMITO

1541993


preso aos meus pensamentos e a um pseudoamor
vou de branco pela rua parda
como uma felina em busca de um coração
pra fazê-lo sangrar
e eu é que sangrei em risos

e só risos o vi passar acompanhado
de uma devoradora de anjos-de-esquinas
e a esquina se tornou seu capital capital
sua cidade  e a porta da alcova que ele nunca tivera
senão por empréstimo ou compaixão

saciado e em lásceras vibrei
por ele afastar-se no asfalto à toda
numa máquina branca que voava
em busca do prazer fugaz que o deixara partido

e eu "vou de branco pela rua cinzeta"
me esvaio em melancolias
mas não adianta segui-lo até a náusea
pois as minhas armas
me garantem a vitória

e ele colorido passava na máquina branca
que voava em busca do prazer fugaz que o deixaria
partido
e a cidade parda compreendia as cores o branco
e as artérias por onde passava
o saciado vômito da flor em botão

31 anos e muitos muitos problemas e sonhos
e os muros não são surdos nem mudos
se escuta por eles e deles se faz escutar

e a lua-quarto-minguante consola a cidade
e não a renova
se faz necessário
"pôr fogo em tudo inclusive em mim"

saio ás onze horas da noite e inseguro tateio
o vácuo que existe entre o broto da
esquina colorido
e o instinto me faz ver
brotar na máquina feia branca que
"furou o asfalto" e era uma foice
que ceifava vidas porque era o tempo da sega

É POSSÍVEL

09112001


os óculos não são meus
mas usei
para te ver melhor
e percebi o quanto eras egoísta
e eu sonâmbulo
tentei voltar ao início do caminho
e já era noite
os vampiros saíam em revoada
pelas ruas do planeta
e um príncipe não coroado
disse-me
os ianques baqueiam os povos
para serem hegemônicos
os gregos os romanos
estão no pretérito
o porvir será mais igualitário

que todos os homens se amem
o príncipe disse
é necessário falar ao povo
organizar a massa e ascender
a qualidade de vida

eu vou usar óculos
para ver melhor

domingo, 18 de julho de 2010

REALIDADE OU ESPERANÇA

2112001

sou utópico
possivelmente louco
talvez sano
todas as mulheres
são ícone da liberdade
o homem opressão
as flores exteriorizam a força
a necessidade de luta
da massa bruta
que não se deixa vencer e
cega tateia
amarrada se move
amordaçada gesticula
analfabeta
anseia o cosmos
e eu sonho
a ideologia se solidifica
vejo transformação
é utopia

DEMOCRACIA E (RÉ)PÚBLICA

692001

1822
independência de nada
ordem para a malta que não tem direito
a nada
progresso para a elite que manipula
tudo

7 de setembro
eu não tenho o que comemorar
nós não temos independência
há desigualdade social
miséria da maioria
falta de moradia
saúde educação
as urbes incham
criando a violência
que é vista como
própria dos revoltados
e a mídia distorce tudo
invertem os papéis
os corruptos são endeusados
os miseráveis condenados
à prisão fome degradação

não temos independência não!

que bom será no dia que conseguirmos
nos organizar e mudar
tudo!

NESSE PONTO

16112001


todos os homens são fúteis
a alma plena
meu coração pétreo
sorriu com o sorriso da lua
quarto crescente
o sertão tão esperança
não compreendeu  o vôo
à lua
dizem que o homem lá não foi
eu quero ir a marte
no próximo verão
caminhar por entre os vales
e brilhar no universo arco-íris

um lindo mar de algas
me alimenta
e eu rejuvenesço a cada segundo
dez anos

o colibri pousou no meu jardim e as
helicônias e ixórias sorriem açúcar
a terra é fértil

segunda-feira, 12 de julho de 2010

É BOM TE AMAR

2091997

oh! quão bom é te amar
e te desejar
o melhor
o meu amor é incontido
e sem controle procuro
sequioso nos teus lábios
teu néctar
e você foge de mim
e mesmo assim
quão bom é te amar
te sentir ao meu lado
e sem querer nos devoramos algo
e em algum lugar
nos amamos
e nos sentimos e pensamos em todas as coisas
quão bom é me amar

e eu como penélope
destroço tudo esperando meu amor
ou querendo lhe acompanhar
faço e desfaço sonhos
todos os sóis e luas passam
e trezentos e sessenta e cinco dias

o diz que vai voltar

terça-feira, 6 de julho de 2010

BANQUETE

2331991

no próximo natal na tal cidade
quero sair em ritmo de samba e fanque
fantasiado de colombina
em cores argênteas e hélias
e tirar todos os perus ensopados
em vinhas d'alho das mesas das casas de família
para banquetear e saciar nas ruas o povo
como faziam na base da pirâmide
de teotihuakan com o corpo
daquele primoroso rapaz preparado
para os deuses que devoravam seu coração
e a malta o corpo

no próximo natal quero ficar alegre
e tirar o fraque
com aquele rabo de galo
que empertiga e trunca emoções
e expressões que fazem bem
que fazem rir
no próximo natal quero estar bem

segunda-feira, 5 de julho de 2010

PLÁGIO AO LÁCIO

491990



flor dos trópicos
que bela e róseo-jambo
exala um tênue e suado
odor cítrico

flor linha minha rosa

a missíclone poti
sem garçonieres nem rotisseries

o horizonte reluzente e distante
nos alumia ígneos raios de um sol
promissor e caliente

NA VIDA

2331988

me esvaio
me acabo
me renovo
de novo
para depois murchar

broto minguado e pobre
revigoro-me
e torno a crescer
corro caio levanto caminho
estrupio cambaleio caio
me levando
me levanto para ser

O POETA E A POESIA

831988

o poeta é a poesia
que o diabo amassou
são dores vividas
pela intensidade da vida
são gozos profundos
que só a vida pode ter
um sofre dor
sofredor da dor
é a vida jorrando sem nunca estancar
jorrando vida e movimentos
ávidos de vida
é um fluxo a jorrar
versos e poesia
em cada canto

ROCHA

5121989

ser pedra e não ficar à beira do caminho
sentir-se um toco e levar topadas em suas frondes
não ser pedra nem toco
mas tudo que está oscilando como ondas
acima das estrelas
ser um toco que ilumina estrelas e está além por ser a vésper
aparece no horizonte que passa
como os caminhos que comportam
pedras tocos e reflexos
de meteoros ocos sem nexo
e nexo em suas esferas
como espirais caminham
saindo e entrando numa sequência lógica e harmônica
do caos à luz e da luz ao caos
e como os primitivos e civilizados
retornam e avançam em seus caminhos
de pedra e ferro e lêiser

O TEMPO

391995

depois da borrasca a bonança
depois do beijo o escarro
depois de apertar-se afastar-se de apertar
e depois de querer deixar de querer
assim é a vida do homem
e o seu tempo debaixo do tempo
e porque não depois de rasgar coser?
e depois de odiar amar?

agora somente a brisa
roça o rosto
do homem

que coisa tão boa é melhor
do que sonhar
e ter os pés no chão?

o perto e o longe
são senão o mesmo lugar
a mesma terra
é o mesmo vento
é a mesma brisa
o mesmo mar

LUNE ET SOLEIL

3031995/541995

quando as luzes se apagarem
e não mais se ver a perenidade
do potengi
sentirei saudades dos ecos ocos
dos moços de frete e pessoa
sorrirá alentejo
e alentos e intentos
surgirão refletores perenes
do ir e vir das artérias perdidas
pedidas pelos moços expectros
pretensos expectadores
sem lar nem ninho

pardais predadores esvoaçantes
pensamentos de homens
depredadores de pensamentos pardais
beija-flores sonhos
alentados intentos
refletidos além potengi sena
vi(verão) os pensamentos dos
homens-pardais

CAMINHO

572010        a adilson rodrigo


como é agradável estar com você
sua ausência é saudade certa
essência e tatuagem em mim

qual ave plainando as planícies
vislumbro os imperios almejados
por nós nas elucubrações juvenis

e continuamos construindo
cautelosamente
nossos personagens
quais colombinas e pierrôs
em micaretas fora de época
nos espelhando em veneza

o nosso sonho deve ser
construído na base sólida
da realidade

caminhemos!!!

sábado, 3 de julho de 2010

PROFECIA

9112001

um rapazola me olhou
e disse-me que
o trem partiria às treze horas
e todas as colombinas já estavam prontas

exitei por não entender nada
eu nunca tinha visto aquele rapaz
e ele conduzia uma tocha
feita de vagalume e visgo
era lindo
o rapaz e a tocha

despiu-se e disse-me
estou esperando o sol nascer
para aquecer meu espírito

e percebi que usava muitos pírcingues
no pênis
mas era lindo

UM

1751998                                                                               à meire minha amada

o amor que sinto
me satisfaz por ter-te
como eu
não qual és
mas como quero
não como me amaria
mas como quero
o amor que sinto
me satisfaz
me faz pensar como eu seria
o amor que sinto

como o ar que  me bate o rosto
e me faz sonhar
como em ondas o ar

DE SETENTA E QUATRO

3091997

meu querido diário meu nome é fafuni
e tenho doze anos
não se assuste com o apelido
ele quer dizer vá dormir
é achou estranho
é que uma tia quando me acalantava
falava assim
e eu sou feliz com esta fonética
é própria particular e restrita

mas eu não ia falar disto não
é que a minha professora protestante afetada de matemática
me entregou pra diretora
por eu ter contado um conto num papel e
fiquei contente porque à luz de lamparina
na casa de mamãe
eu despi mariquinha-doida quiba novinha
- como falava auta de chico-fu-fu
e li prum colega que escutou
pra outro que não entendeu nada
e pra outro que me denunciou
quase fiquei quinze dias sem frequentar a escola
e por isto só voltei a escrever minhas sandices
em setenta e oito
quando caía chuva muita do lado de fora
das grades do quarto quinze na casa do estudante
quando me refugiei em natal e
chorava a falta de você meu querido diário
porque já havia desaprendido a jogar-me no papel
por medo de ser espancado

o que diria mário quintana
que ganhou uma ida ao jardim botânico
por causa da sua redação sobre a fórmula de einstein
que a achou absurda e maravilhosa
como a lenda de aladim

seria pré-histórico

FIDUS ACHATES DEUX

862000

esse broto que tem estado
em meus sonhos
a transeuntarmos de mãos dadas as ruas
do mundo
"olha...um sorriso da alma!"
me faz cantar

será ele
meu guerreiro forco latino?

tem torso de um deus
artérias latentes
que me inebriam
e me faz sonhar
ombros nus peitos largos
cabelos de tabajara
capricorniano
mensagens de boa noite
esse broto internauta
que manda todas as manhãs

numa fantasia estranha
me faz enlouquecer é o que sei
ele é um torso moldado em rocha das serras do sertão
pelos desejos meus guardados há anos
esse broto

INDIFERENÇA

1961998

os versos meus que falam em você
e tão longe de mim
se faz indiferente
calam

os meus versos já são só seus
por estar eu distante
e querer-te tanto
gritam

com os olhos da paixão
te procuro em todos os transeuntes
em todos os músculos
todos os cérebros
e só a mim sinto penso e toco
em meus versos

O SERTÃO É URB

22071991

aquele bruxo me enfeitiçou
e eu não sei mais nada
do sertão porque são veredas
só veredas que me conduzem
às urbes e eu não sabia
e eu transcedente já percebo
pelos cristais de rocha
- e eu que riso só com khlébnikov
porque estava preso às agruras
de uma medíocre vida
que as musas negligentes
de propósito me colocaram
para qu'eu crescesse não crescesse
e visse o bruxo que por
um momento me enfeitiçou
e não me disse qu'eu era
um bruxo
- e que o sertão
é uma urb

PEIXES EM MAR AZUL

2002

FIXAÇÃO

1132002


a tua ausência
essência fixa e opaca

outros códigos necessitei
para expressar meu espírito
a palavra não comportou
e eu fiquei no cais
dois séculos se consumaram
para nos reencontrarmos
já estávamos mais
serenos e lúcidos

já não empunhava a espada negra
que acreditava onipotência
mas com seus cabelos encrespados
fenecera voltou à fuligem
para milhões de anos
ressurgir como pedra
fixa e eterna no sertão

traseunta em meus sonhos
diurnos arco-íris

eu uso a palavra
para externar todos os sentimentos
que lateja nas minhas entranhas
só não entendo porque
esta perenidade não passa
é essência fixa

sexta-feira, 2 de julho de 2010

CAJUS

TRABALHO PRODUZIDO EM 2004 NA TÉCNICA ACRÍLICO SOBRE TELA

O ETERNO

1191990                                                                              a francisco ivan e
                                                                                            a haroldo de campos

ele deixou a porta abrida porque gostava da fresca
que corria e lhe refrescava o ventre
cansado de tanto soerguer-se
tonto e cansado ficava
e recebia com a porta abrida a fresca que corria
seu filhinho sonho de tanto sonhar
com a porta abrida recebia com ele a fresca que corria
e corria na rua a ganância de mais querer
e destruir o outro que sonhava seus sonhos
a realizá-los
e corria uma fresca brisa que refrescava a irrealização de sonhos
e acariciava outros há muito sonhados
sua porta a fresca o sonho o filhinho ele
sonho de tantos e tontos sonhos
que a fresca trazia e levava outros que outros iam a sonhar
e corria a ganga
que abrida a porta lhe destruía os sonhos
semelhantes às bridas que castravam os sonhos dos cavalos alados
obrigados a não mais correr e voar
na brisa dos campos que refrescava os sonhos
como o homem do sonho que recebia a fresca que passava em sua porta
lhe acariciava os sonhos e lhe fazia sonhar
o tempo a contento via tudo e todos
de tanto passar o tempo
à brisa de todos os tempos descansou ele

UN OISEAU

25101997

lá fora canta um pássaro
me diz e eu não consigo
ler
ele canta continua a dizer
e eu só sinto
e não entendo
ou entendo tanto que
sinto e finjo
não entender
ele diz e eu sinto

ONE WORLD ONE PEACE

1291996


garoto lembrei de você
a perfeição
estávamos comemorando
a justiça os preconceitos
e lembrei daquela cama
renato russo cantou
e eu me lembrei
da nossa bandeira
da nossa solidão
e vamos enterrar a estupidez
a violência e a desumanidade
celebremos o amor
nesta primavera
é a perfeição

TEMPO

1241997

meia noite e soam as primeiras baladas
de um vento norte que enfada
as asas dos anjos e de uns simoníacos homens
todos de uma plêiade só

meia noite e já se faz tarde
e só os homens vibram
com sibilantes notas vindas como que ressuscitadas
de longínquas eras

meia noite faz um frio norte
e não é tarde é o tempo dentro do tempo
e não se faz tarde
e continuam sibilantes as baladas notas

AO BROTO DE BRANCO

2371991


foi como um bálsamo
mas muito fugaz
como as coisas boas
etéreas mas eternas
foi um momento-segundo
tempo suficiente
pra elucidar meu
espírito que estava ótimo

e como eu não podia fazer outra coisa
porque fiquei demasiado feliz
fui pro cruzeiro
olhar o horizonte
e receber a fresca que lá corre
presente em todo o tempo
aquele minumento ficou eterno em mim
e sonho com outro momento
que me dê um minuto
um monumento outro
que me faça
pensar no éter
para pensar naquele broto

MÃE MINHA PRETA DE LEITE

2161993

ai que saudades da minha serra
da mãe minha preta de leite
que o tempo não mama mais
ai que serra de saudades
do coachar dos sapos
dos raros invernos chuvosos
e dos riachos arenosos que a chuva não molha mais
ai que saudades da minha serra
da parteira que me pegou
dos meninos que brincamos na pedra-grande
e das coisas que me proibiram

CAPINZAL

TRABALHO FEITO EM ACRÍLICO DE 2002

QUOTIDIANO

371998

o minino inventoso macriado
responde incima do lombo
e o mandado de ir buscar
o jumento pra ir ver lenha e água
num é cumprido não

é lida grande
busca água lenha
corta replanta e planta capim pra ração
liga e desliga bomba
pru mode num matar de fome nem sede
os bichin que segura a mesa
o risiido e a esperança
da fartura do inverno por vir

homem no campo

o agrimensor diz ao agricultor
que a vida num muda
ele trabalha na bruta lida
em meio a facão enxada picareta
cavalo chibanca sela
carroça e formão

SERTÃO

271998

no zênite o sol escalda
os mufumbos mudam de cor e
servem de adubo suas folhas

a vaca muge com a
falta d'água e a mulher
diz que tem medo não nehuma

o joão-de-barro num fei
sua porta pru puente
e tudo se tornou rim
mas
"mandacaru quando fulora"
é esperança certa
a babuje brota no sertão
e o home ri

O ATALHO

precipita-se o homem
no caminho
das pedras
os espinhos expiam
todas as demandas mandadas
feitas
por inexcrupulosos seres
de subestratos e esferas aquém

os espinhos expiam

ecoa em eras rupestres os bombos e gongos
e flui boa seiva
as rosas riem escarlate
o homem ridente
caminha no íngreme caminho das pedras
e corre
escorre gargalhadas por entre
as árvores felizes
e carregadas de gás carbônico
e fuligens que o homem
engole em horríveis proporções

para que o atalho?

BUSCA INFINDA

1662001


o tempo veste minha terra de noiva
o meu coração de afeto pulsa vibrações
de  eras e remotos
mancebos errantes
em busca de acertos

eu pueril lambuzo-me na poeira
removida pelas crianças que brincam
na festa da vida
promovida por dois rapazes amantes
extasiados de se encontrarem
vibram olho e alma
eternas gerações se esperavam
para vê-los uno

martinianos vermelhos de paixão e esperança
espíritos em ebulição
e em espirais evoluem
rumo ao zen

quinta-feira, 1 de julho de 2010

PATU RUPESTRE

ACRÍLICO SOBRE JUTA E TEM COMO TEMÁTICA OS DESENHOS RUPESTRES ENCONTRADOS NOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS PATUENSES.

CAJUS ESTILIZADOS

PRODUZIDO EM 2001 COM A TÉCNICA ACRÍLICO SOBRE TELA

A MADONA NEGRA


TRABALHO PINTADO COM ACRÍLICO NO ANO DE 2002

PERFIS MASCULINOS

ACRÍLICO SOBRE TELA

DEITADO EM BERÇO ESPLÊNDIDO

Acrílico sobre tela. Trabalho produzido em 2003 e tem como temática a Serra de Patu e a imagem masculina.

MARIA PRETA, MÃE MINHA NEGA DE LEITE

Maria Preta foi uma mulher de luta e cheia de generosidade que viveu e morreu em Patu-RN. Mãe de Leite de muitos me amamentou e em homenagem a ela fiz este trabalho como retribuição histórica ao que eu jamais teria condições de pagar.

ABSTRAÇÃO Nº UM


ESTE TRABALHO FOI FEITO NO ANO DE 2000 E A TÉCNICA UTILIZADA É ACRÍLICA, JUTA E UM LENÇOL VELHO...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O LIMITE?

12102000

o limite de mim mesmo
está aquém dos muros azuis
erguidos em menção honrosa
à limitação
e eu não quero partido
quero inteiro
diria blackout

para que limites além dos muros?
eles chegam e partem
porque não é pra limitar
limite é este ponto em que
me encontro
o início e o fim
a partida e a chegada
tudo é uno

veja os mares
são um


e as lamúrias são mímicas
limítrofes
do silêncio

e se espera aprender a não limitar

SÓ FALAR?

8102000

o que posso fazer
senão sentir e ver o tempo passar?
todos passam como o tempo
e é bom

há uns que permanecem sem estar
outros partem e sequer são lembrados
e eu esfacelado caminho
à beira mar

imagino no que há detrás da serra de patu
no fundo do mar
e tudo se torna virtual
o rapaz que busca o
sabiá que foge dos pomares
por causa dos agrotóxicos
que matam homens
desalojam as samambaias
dilacera a vida
o homem-ganância
clica e árvores viram ação
papel de bolsas sem-valores
de homens-de-capital
capital duvidoso

e o tempo
comporta a esperança de que isto vai
um dia
mudar

o que se pode fazer?
falar falar falar

CAIS

2e392000

mas eu tinha que
me derramar no papel
você
me fez fluir
e me fez aflorar
todos os desejos todos os sonhos
calcificados ao longo
das eternidades
nesta jornada infinda
de pedra e éter
sertão ácido árido poeta
água e gás
neste porto de eterno
partir e ficar
nos encontramos
e rufaram sentimentos
dantes indiferentes

BUSCA-MI(L)

292000

no alvoroço ensurdecedor dos metais
uma silenciosa e plácida cumplicidade
enlaçam  aqueles olhares que
caminham por entre a multidão
e se entrelaçam
dançam
e esvoaçam em espiral

já não são só dois homens
tornaram-se uno
na imensidão

e outros continuam a buscar
outros que buscam
e lançam contínuos e provocantes
jatos de espírito
querendo se confraternizar
e buscam os elos perdidos
na multidão

todos querendo ser um

NEOMÊNIA

292000

já ia sons e tons
e semitons
a tocarem qual
uma brisa de mar
silenciosa e lascerante
causando alvoroços e destroços
e em inusitado instante
me acalmou o espírito

sons e tons
agudos prazeres

já ia seis
de doze luas
de uma gestação
de espíritos ousados
de sonhos e sons e tons

já ia sons
e iam vontades e desejos sagazes
a tocar melodias
como de uma afinada harpa
harmônica e milenar de naverrantes
jovens e saudosos poetas
de patu e natal

descobriu-se o prazer

OBLÍQUO

2997

da janela do meu quarto
cintilam tuas pupilas
que me epiam passar em direção a marte

os martinianos expiam suas existências
coroadas de amores i-lícitos

duas pupilas me espiam
e têm íris cor de mel
exalam perfume de pedra ao sol no sertão

das urbs do meu planeta volta-se ao caos
e já é verão
o sol bate nos meus ombros
me refresca a alma
e me faz sonhar
na janela do meu quarto

sonho em ter-te
sendo nós em algum momento uno

OS DOIS AMANTES

11092

um quis o outro
o outro andarilho andara e andará
um esperou a volta
mas àquela noite
não amaram nada
porque já havia passado
o frêmito e o
mistério do querer

NEGATIVO

11122001

com o passar dos dias
meu coração ficou mais sereno
menos efêmero e fugaz

de docinhos de cacau
e leite
tirei feitos de amor
que nunca pensara

todos os meninos descem e sobem
a rua e não se cansam

eu era assim buscando o amor
e ele estava em mim
quando me apaixonei por você
e só hoje entendi isto

o verão faz mudar
e você mudou
e eu também

o carro da coleta
levou o lixo e
todos os poemas
em preto e branco se foram
ficaram os sonhos

MY DREAM MY LIFE

01072000

os homens todos amarão
os homens todos em busca da paz e
"será um lindo dia amanhã"

serão todos
fidus achates?

BURLA

25112000

os girassóis em sementes
que plantei
floraram orquídeas
quais vulvas férteis
à espera de sémen
para perpetuação das espécies

SONHOS

12102000

a dor de não ter-te
e imaginar distante mais do que estás
destroi-me e aflora
todas as frustrações enrustidas
há milênios pelos meus eus
florescem nos lajeiros do sertão
nos alpes
nas cordilheiras
e nas grutas mais remotas

a dor de ter-te
no meu colo acalantado
pelos sentimentos mais pueris
me faz viajar
em direção a netuno
à procura de tritão e nereida
para no oitavo dia
te ver dormir e sonhar
e soltar as fantasias quiméricas
de milênios amufambadas
por outros eus

o prazer de ter-te
é onírico
e eu galgo todos os cumes
em te ver passar

INFÂNCIA

2482001

mamãe costurava os costumes
da cidade
e eu lia o pequeno príncipe
que achava parecido
com todos os meninos da minha idade

papai andava a cavalo pro pé-da-serra
e eu queria furar um túnel
pra encurtar o percurso
mas eu ia na lua-da-sela
depois na garupa
e sonhava cavalgar
na rodagem pro patu-de-fora
mamãe fazia um rubacão
danado de bom
com toicin  feijão-de-corda linguiça
arroz-da-terra nata queijo-de-coalho
carne-de-sol e muito cuento

nada era melhor
só a malassada de vovó
no café forte da tarde

quando eu era menino era tão bom!!!

SONHO DE MENINO

692001

a pipa alçou vôo
o menino sorriu feliz
a rua tornou-se o deserto
(in)desejado
a roupa rasgada
o pé no chão
barriga vazia

eu quero ser médico
o menino chorou
a polícia bateu...ou matou

minha pipa é
meu sonho
é não violência
não fome nem dor

FIDUS ACHATES

30992

nunca te escreverei coisa alguma
porque nunca acharei nada
pra te dizer
nunca terei nada coisa
alguma coisa pra te dizer
terei nunca alguma coisa
que te diga
só sentirei como sinto
você do meu lado
e nos devoramos alguma coisa
e eu te sinto
e nunca te escrevei nada
um hai-kai porque sequer
te quero sentir e não pensar
coisa alguma

É ISTO

um lamento em uma nota só
um lamento e uma nota só
uma nota só e um lamento
uma nota e um só lamento
lamento de uma nota só

escrevi num papel
um lamento
e eu vi mamãe sentir a dor de ser mãe
e não ter o espaço que merece
vi o poder matar e ludibriar
para se manter matando
eu vi o iraque lutando
para se manter independente
das injenções ianques
eu vi nas ruas da minha cidade
as pessoas transeuntarem
e todos iguais
todos irmãos esfacelados
em busca de pão e água
e vi a pele dos gatos descerem
até o pó
e as crianças como os gatos e cachorros
gregos ou troianos já dizimados
em piedade e dó
transeuntam articulando o amanhã
e eu escrevi neste tempo a dor
de correr levando a vida imposta
e subornada pelo poder                                 E EU ESCREVI NO PAPEL
                                                                      MEU LAMENTO